1.9.08

Quando tudo dá errado!


Minha mãe e minha avó sempre me falaram sobre o "tenebroso agosto - mês do cachorro louco", elas contavam histórias terríveis de um mês impiedoso que tudo desgovernava. Nunca acreditei nesse tipo de superstição, parece tolo acreditar que o simples fato de estarmos numa determinada época nos deixava propensos ao acidente e sabendo que o mês em questão foi adicionado ao calendário para satisfazer o ego de um imperador que se auto denominava "Augustus", torna essa crença mais sem fundamento do que ela aparenta.

As lendas e histórias fantásticas dessas mulheres foram marca presente na minha criação, e levo comigo, mesmo por vezes querendo me desvencilhar, esses mitos infantis. Hoje a humanidade discute , em demasia, as leis físicas da atração, os best-seller de nossa época trata da lei da atração, ou seja, daquilo que consciente ou não atraio para minha vida, e dentro dessa filosofia penso que posso ter constituído o fatídico 31 de agosto de 2008.

Era manhã de 31 de agosto, mesmo com todo meu desprendimento das ondas supersticiosas, não ousei tocar o pé esquerdo antes do direito no piso opaco e frio do quarto. Não acredito nessas lorotas que contam por ai, nessas história infantis que a "nona" contava para deixar nossos cabelos em pé, mais não queria que, caso algo não saisse como o desejado, minha cabeça fizesse qualquer ligação com o mês em questão. Tomei cuidado para que quando fosse ao toillette não ousasse embaixo da escada passar, sai tão rápido para não encontrar meu gatinho "Ploc", não acredito em sorte, mais não é um azar? Ganhar um gato preto quando de tantas outras cores poderiam me dar. Na rua desviei de todos os obstáculos, na minha maratona, apenas eu corria. Parei no sinal vermelho, a rua deserta, já podia atravessar, dei os primeiros passos, um carro louco, desgovernado vindo na minha direção, minha cabeça a mil "ele vai me atropelar, ele vai me atropelar", paralisei, foi por pouco, ele pode passar. Me benzi três vezes com o sinal da cruz, não é superstição, é que a mão tremia tanto e não sabia o que fazer com ela, e o sinal da cruz foi a primeira coisa que aprendi na vida, minhas mãos dançavam e foi um meio que encontrei de controlá-las.

Na casa dos pais de meu marido descobri que seu irmão diz ter emprestado minha bicicleta (que custou a bagatela de R$1500,00) para um coleguinha ir ao R$1,99, este por sua vez deixou minha magrela na frente da lojinha ("dá pra acreditar!"), ele quer me convencer que foi roubado. Não acreditei, ser roubada sim, mas com o minímo de dignidade, não aceito, em que mundo nós estamos? Primeiro, não se empresta aquilo que não é seu (cunhadinho), segundo, o que esse animal foi fazer no 1,99, e porque o demente não colocou uma trava na b.... da bicicleta? Será que ele acredita estar na Finlândia, onde os níveis de violência e furtos são quase inexistentes?

Fizemos um acordo, determinei um prazo e ele vai ter que pagar. Para reestabelecer o ânimo, meu docinho resolveu me convidar para um passeio, no caminho o carro quebrou, não ia para frente, não ia para trás. Nessa hora havia me esquecido que dia era para não me apavorar. Meu pai então num gesto raro de generosidade decidiu seu carro nos emprestar, escolhi o destino, não é superstição, mas nada dava certo, pensei "vamos então a uma romaria". Na entrada da cidade, o som do carro soava e as engrenagens a toda velocidade, o carro parou, refugou, não andou mais, chorei, me lamentei, queria morrer, mais não ia adiantar. No meu céu escuro a solução era o cometa, fomos para o rodoviária, entrei no buzão, com a cara amarrada e cabeça uma confusão, a noite chegava, mansinha e brava, escurecia e acalmava aos poucos meu coração.

As coisas voltavam ao seu eixo, e com todos os acontecidos ousei imaginar "o que mais de ruim poderia nos acontecer", mal acabei de pensar quando um carro chocou-se com a lateral do ônibus, uma chuva prateada de cacos escorria, muito sangue, gritos, uma correria. Nenhuma vida se perdeu, apenas sustos foram contabilizados. Chegamos em casa, subi a escada, fui para baixo do edredon como quem procura colo de mãe, sussurrei baixinho, aos pés do ouvido de meu marido _"Não é superstição, mais graças a Deus amanhã já é setembro!"

Luna Pla♀ha

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