21.8.12

Algodão

O lençol branco de molho manchado
Pequenas obras que o infortúnio constrói
Linho ou seda que a fome destrói
O lençol colorido de cândida manchado
A pele parda, amarela, negra e branca
A pele que revela e esconde
O que é o homem? Além da cor de sua pele,
Além de sua estatura, peso e métrica de açougueiro?
O homem é o que ingere ou o que defeca?
Um pouco de cada? Talvez
Ora somos molho manchando peças brancas,
Ora somos peças em branco clamando por cor
Ora somos cândida limpando toda sujeira e manchando o colorido dos outros
Ora somos manchados por quem acredita limpar nossa bagunça
E ninguém se pergunta o que é bagunça, sujeira, cor?
E ninguém quis saber o que é moral, amoral e imoral?
E ninguém respondeu o que é o homem...

Luna Pla♀ha

20.8.12

Sobre nada


Não gosto de vestir sapato, som de cigarra, areia tocando a pele
Não gosto de goma azul, unhas descascadas, chá de alho, mentiras
Não gosto quando não me olham nos olhos
Gosto de aperto de mão firme, cigarro aceso, copo cheio...
Gosto de cantos escuros, fechar os olhos, pensar em nada...
Gosto de encher os pulmões até ficarem fartos de ar...

Gosto do que não gosto, e não gosto de gostar. Os gostos são pequenas prisões...


Luna Pla♀ha

31.5.12

Canção


Os dias minguam, entoo um canto que não é meu
Desapareço nas expectativas de uma imagem produzida
A tintura no rosto ressalta as bochechas e maquia fraquezas
A máscara ressalta os olhos e esconde o olhar
O sabor acre é ainda a única sensação do paladar
As palavras perder e ganhar perderam o sentido e a coerência
Sentada na sala a vida é uma espera...
espera do anoitecer, do próximo café,
espera do banho, da próxima refeição,
espera do trabalho, do próximo riso
Cronos, a vida é esse ciclo de horários intermináveis?
Pois mesmo o que se diz fora da rotina, cria pra si um vício esquisito de fuga dos horários
Uma prisão medida noutro tempo
O tempo que não está dentro da ampulheta, quem pode contar?
Na garganta um choro, um grito, um canto sufocado escorrega pela faringe,
chega aos pulmões, atravessa o peito
Fica difícil respirar quando falta o principal: motivo

Fernanda

"(Escrevo) porque o instante existe e minha vida (não) está completa. Não sou alegre ou triste, sou poeta" Cecília Meireles revisitado

Luna Pla♀ha