16.6.11

(Des)humano



Hoje na esquina um andarilho dormia.
Na terra batida, envolto em jornais numa posição fetal.
Os olhos cerrados, as mãos sobre as orelhas, a boca de encontro ao joelho
Ele se esconde do mundo e se revela pra ele
O mendigo invisível aos olhos dos transeuntes já é parte da paisagem.
Porque?
Não é mais humano, é coisa qualquer entre galhos, pedras e bitucas de cigarros.
Transita entre o natural e sintético.
Vez ou outra um olhar de repugnância lhe é lançado,
não fosse o odor denunciar sua presença seria totalmente ignorado.
O mendigo dorme, ele chora, ri, come quando pode, bebe quando tem.
O mendigo sofre, sente frio, fede, tem desejos, adoece.
O mendigo pede, divide, é solitário, se agrupa, está livre
O mendigo sonha!
Queria eu ser parte do sonho do andarilho, pois só quem tem nada, nem mesmo a dignidade que lhe foi furtada, entende o valor das coisas.
Ser humano é também se reconhecer nos olhos de seus iguais.
O mendigo acordou.

Luna Pla♀ha

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